Agora isso estava para mudar novamente. Peguei uma passagem de primeira classe no avião com destino à minha cidade natal. Lembram-se que não tenho problemas na questão financeira? Eu não estava brincando. E também precisava estar confortável o suficiente para terminar de rascunhar o discurso de abertura da minha primeira - e talvez última - palestra. Sim, um sujeito que perdera tudo com exceção do dinheiro iria dar uma palestra aos alunos de ensino médio da mesma escola em que ele estudara.
Antes do dia do voo havia ligado para Eli, na verdade era um telefone etiquetado com seu nome na sala dos professores, e quem atendeu foi uma moça jovem dizendo que Eli estava aposentada há cinco anos e ninguém sabia do seu paradeiro nesse intervalo de tempo. A notícia me entristeceu, mas consegui manter uma longa conversa com a moça, e ela achou maravilhosa a ideia da palestra aos alunos conturbados do ensino médio. Segundo ela todos eram umas pragas munidas de meias informações e espinhas; viviam se revoltando sem motivos. Não cheguei a confessar que na minha época era ainda pior. Tentava explicar o máximo possível sobre o conteúdo da palestra - sem, no fundo, revelá-lo inteiramente - mas só deixei a mulher mais confusa. Marcamos a palestra para o primeiro dia de aula de agosto.
No avião fiquei pensando qual o futuro que aguardava todos aqueles jovens estudantes - claro que poucos eram estudantes de fato - que ainda não sabiam bem o que ser e o que fazer; meninos e meninas que esperavam que, quando completassem 18 anos, os pais os levariam a um porão secreto da casa e mostrariam a fórmula secreta da felicidade, explicando porque tudo precisou ser difícil até aquele momento.
Em minha mala, além das inúmeras folhas rascunhadas, contas e cheques em branco havia vários livros que tinha separado previamente para usar na palestra. Livros que abrangiam todas as áreas que um homem poderia ter dúvida ou incredulidade. Iria usá-los a favor dos meus espectadores, ou contra eles, caso merecessem.
Minha mala estava pronta para a grande palestra de um sujeito que perdera tudo, menos o dinheiro - e dizem que o dinheiro traz a felicidade. Eu estava pronto para fazer todos aqueles noviços rebeldes enfrentarem a morte, conhecê-la e aceitarem que iriam morrer em breve.
- Adriano M. Souza -
- Adriano M. Souza -
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