Por muitos anos evitei a depressão. Precisei, neste último
ano, me livrar de todas as facas e demais objetos cortantes de minha casa. Sim,
ela me pegou. Fria e quente, terrível, alucinógena e cruel depressão. Os
motivos para viver me escaparam, e agora perambulo por aí sem emprego,
sobrevivendo do montante que reuni todos esses anos naquele escritório. Vida,
aliás, muito miserável. Organizei papeis, assinei documentos e dei ordens. Por
um ótimo salário, aliás. Enquanto isso, não
pensei em mais nada porque me tornei distraído, desanimado.... Robótico.
Passava todos os dias pelas ruas da periferia, e via os
pedreiros fazendo a parte suja e pesada por um mísero salário, e para uma
mísera vida. Mesmo assim, não sei por que, parei o carro quando vi um homem com
uma cara cinza de cimento, sorrindo ao abraçar uma feia mulher descabelada, embaixo
de um andaime. Me perguntei o motivo daquele miserável homem conseguir sorrir.
Talvez fosse algo falso, um fingimento por conformar-se com uma vida difícil de
poucas oportunidades. Não consegui encontrar mentira nem fingimento em seus
olhos.
Nesse último ano também perdi a minha amada. Ela me deixou alegando
que eu estava muito distante, frio. Uma coisa é certa: algo – ou muitos “algos”
– me foram roubados e eu percebi só agora, como um viajante entupido de malas
que só percebe o sumiço delas quando retorna para casa.
Agora ando pelas ruas. Tenho dinheiro e acredito que ele
será o suficiente para atingir os meus finais propósitos. Me chamo Augusto e farei o possível para
mostrar às pessoas o verdadeiro caminho – não um caminho como “Você vai ser
engenheiro e ponto final”, e sim aquele caminho antes da carreira profissional,
da crença e dos demais valores -, a estrada que nos leva à vida, e não à morte (como
no meu caso) certa.
- Adriano M. Souza -
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