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quarta-feira, 31 de julho de 2013

Malas prontas para o fim - Augusto - 01

Por muitos anos evitei a depressão. Precisei, neste último ano, me livrar de todas as facas e demais objetos cortantes de minha casa. Sim, ela me pegou. Fria e quente, terrível, alucinógena e cruel depressão. Os motivos para viver me escaparam, e agora perambulo por aí sem emprego, sobrevivendo do montante que reuni todos esses anos naquele escritório. Vida, aliás, muito miserável. Organizei papeis, assinei documentos e dei ordens. Por um ótimo salário, aliás.  Enquanto isso, não pensei em mais nada porque me tornei distraído, desanimado.... Robótico.

Passava todos os dias pelas ruas da periferia, e via os pedreiros fazendo a parte suja e pesada por um mísero salário, e para uma mísera vida. Mesmo assim, não sei por que, parei o carro quando vi um homem com uma cara cinza de cimento, sorrindo ao abraçar uma feia mulher descabelada, embaixo de um andaime. Me perguntei o motivo daquele miserável homem conseguir sorrir. Talvez fosse algo falso, um fingimento por conformar-se com uma vida difícil de poucas oportunidades. Não consegui encontrar mentira nem fingimento em seus olhos.  

Nesse último ano também perdi a minha amada. Ela me deixou alegando que eu estava muito distante, frio. Uma coisa é certa: algo – ou muitos “algos” – me foram roubados e eu percebi só agora, como um viajante entupido de malas que só percebe o sumiço delas quando retorna para casa.


Agora ando pelas ruas. Tenho dinheiro e acredito que ele será o suficiente para atingir os meus finais propósitos.  Me chamo Augusto e farei o possível para mostrar às pessoas o verdadeiro caminho – não um caminho como “Você vai ser engenheiro e ponto final”, e sim aquele caminho antes da carreira profissional, da crença e dos demais valores -, a estrada que nos leva à vida, e não à morte (como no meu caso) certa.


- Adriano M. Souza -

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