Estavam no meio de uma aula de história e o assunto era sobre povos antigos, onde começaram a questionar o professor sobre as crenças de antigamente. A exclamação de Gary lhe atraiu todos os olhos exceto o da menina que se maquiava num espelho de bolso. Durante quatro segundos o silêncio rompeu a algazarra e isso sim chamou a atenção do professor, pois não era uma tarefa fácil manter alunos daquela idade quietos.
Várias peças foram interpretadas durante o silêncio, e todas tinham como plateia e inspiração Gary. Os garotos do time de futebol o olharam seriamente, sem dizer nada; as meninas das quais ninguém gostava - por supostamente serem inteligentes demais e por não fazer favores à turma - baixaram a cabeça numa expressão de desprezo; dois meninos levaram os dedos indicadores às têmporas e desenharam um círculo no ar, um gesto que dizia "esse aí não bate bem da cabeça". Os demais pareciam não entender o que estava se passando.
O silêncio repentinamente desfez-se numa onda de gargalhadas, palmadas fortes nas carteiras e nos gritos do professor tentando fazer com que o precioso silêncio voltasse. Alguns alunos já gemiam de dor na barriga de tanto rir. As vozes da sala começaram a falar:
- Ei, acho que ele está passando tempo demais assistindo desenhos. - outras vozes concordaram.
- Sim, a sala do manicômio devia mudar de canal de vez em quando. - outra onda de risos sobrepôs a antiga.
- Decerto os pais deles nunca vasculharam o quarto em busca de drogas. - o comentário foi de um patamar mais pesado e poucos riram.
- Talvez achassem aliens lá dentro também. Talvez puxem os seus pés à noite enquanto pede ajuda a esses faunos. - de novo iniciou-se a onda de risos, porém interrompeu-se ao primeiro vislumbre da face irritada do professor que pusera as duas mãos na cintura.
Gary se encolhera debilmente entre cadeira e carteira e parecia brincar com os dedos de ambas as mãos. O professor, após conter a turma, virou-se para ele. O menino mesmo assim parecia confiante e pouco intimidado, agora.
- Meu pai tem uma coleção inteira de histórias de fantasia. Ele me ensina tudo. Foi ele que me contou há muitos anos sobre os faunos. - alguns risinhos engasgados se retorceram na garganta de alguns, brevemente.
O professor suspirou, largou o toco do giz na mesa e ajustou o óculos com a ponta do dedo. - Vocês deviam aprender com o seu colega Gary; aprender a ler tanto quanto ele. Na idade de vocês a imaginação é uma agulha bem afiada, mas ela vai-se enferrujando se lhe é dada pouco uso. Fora que, em mais um ano, todos aqui, espero eu, estarão em rumo às mudanças do futuro e de uma carreira profissional. E também .... - um robusto jovem deu de ombros e soltou uma espécie de rosnado - O que foi, Fred? Quer falar alguma coisa? Gostaria que não me interrompesse desse je...
- Que se dane, professor. Ler? Pra quê? Pra ficar louco igual esse daí e o pai dele? Tô fora. Nos filmes eu não vejo nenhum maluco desses dirigindo um Camaro 0 km. - mais risos abafados e os mesmos olhares de desprezo das meninas inteligentes, que antes tinham direcionado-os a Gary, voltados para Fred.
- O que disse Fred? Não quero ouvir besteiras na minha aula. - o professor deu um sorriso sem graça - Você vai provar por si mesmo que está muito errado.
Fred rosnou novamente - Tô nada. - ele disse. Mas se calou. Naquela altura do campeonato já sabia que discussões com o professor só sujariam sua barra.
O professor continuou. - Gostaria que esta gozação não continuasse; e que não ocorresse novamente no ano, ou melhor, na vida de cada um. Oito anos atrás uma menina da oitava série cometera suicídio por causa disso, infelizmente. - Gary levantou a mão e o professor fez um gesto de autorização.
- Tudo bem professor, eu não me senti ofendido. Acho que - o garoto começou a vislumbrar o nada, e seguiu-o por um instante no olhar, indo e indo até a janela e depois rapidamente para a porta - acho que eles não entenderiam se eu falasse. Se eu conseguisse falar, na verdade. Algumas coisas ultrapassam nossa capacidade de dissertar, e só conseguimos mostrar a nós mesmos.
Esse aí não bate bem da cabeça, a menina que antes se maquiava - e que agora já se mostrava a par da situação - sussurrou alto demais. Os sorrisos agora eram apenas estampados pelas bocas; alguns transformaram-se num olhar de repugnância, porém alguns estalaram pra fora os olhos da curiosidade. O professor cruzou as mãos em frente à barriga e andou vagarosamente em direção a Gary.
- Olha, Gary, eu conheço seu pai... - os olhos do professor ficaram vagos como se estivesse viajando pelas memórias do passado - ele é um homem responsável. Muito inteligente. Creio que você estará num bom caminho. - sorriu, depois ficou sério. Rapidamente voltou à mesa para apanhar o giz e continuar os tópicos sobre as características culturais de Roma.
- Adriano M. Souza -
Várias peças foram interpretadas durante o silêncio, e todas tinham como plateia e inspiração Gary. Os garotos do time de futebol o olharam seriamente, sem dizer nada; as meninas das quais ninguém gostava - por supostamente serem inteligentes demais e por não fazer favores à turma - baixaram a cabeça numa expressão de desprezo; dois meninos levaram os dedos indicadores às têmporas e desenharam um círculo no ar, um gesto que dizia "esse aí não bate bem da cabeça". Os demais pareciam não entender o que estava se passando.
O silêncio repentinamente desfez-se numa onda de gargalhadas, palmadas fortes nas carteiras e nos gritos do professor tentando fazer com que o precioso silêncio voltasse. Alguns alunos já gemiam de dor na barriga de tanto rir. As vozes da sala começaram a falar:
- Ei, acho que ele está passando tempo demais assistindo desenhos. - outras vozes concordaram.
- Sim, a sala do manicômio devia mudar de canal de vez em quando. - outra onda de risos sobrepôs a antiga.
- Decerto os pais deles nunca vasculharam o quarto em busca de drogas. - o comentário foi de um patamar mais pesado e poucos riram.
- Talvez achassem aliens lá dentro também. Talvez puxem os seus pés à noite enquanto pede ajuda a esses faunos. - de novo iniciou-se a onda de risos, porém interrompeu-se ao primeiro vislumbre da face irritada do professor que pusera as duas mãos na cintura.
Gary se encolhera debilmente entre cadeira e carteira e parecia brincar com os dedos de ambas as mãos. O professor, após conter a turma, virou-se para ele. O menino mesmo assim parecia confiante e pouco intimidado, agora.
- Meu pai tem uma coleção inteira de histórias de fantasia. Ele me ensina tudo. Foi ele que me contou há muitos anos sobre os faunos. - alguns risinhos engasgados se retorceram na garganta de alguns, brevemente.
O professor suspirou, largou o toco do giz na mesa e ajustou o óculos com a ponta do dedo. - Vocês deviam aprender com o seu colega Gary; aprender a ler tanto quanto ele. Na idade de vocês a imaginação é uma agulha bem afiada, mas ela vai-se enferrujando se lhe é dada pouco uso. Fora que, em mais um ano, todos aqui, espero eu, estarão em rumo às mudanças do futuro e de uma carreira profissional. E também .... - um robusto jovem deu de ombros e soltou uma espécie de rosnado - O que foi, Fred? Quer falar alguma coisa? Gostaria que não me interrompesse desse je...
- Que se dane, professor. Ler? Pra quê? Pra ficar louco igual esse daí e o pai dele? Tô fora. Nos filmes eu não vejo nenhum maluco desses dirigindo um Camaro 0 km. - mais risos abafados e os mesmos olhares de desprezo das meninas inteligentes, que antes tinham direcionado-os a Gary, voltados para Fred.
- O que disse Fred? Não quero ouvir besteiras na minha aula. - o professor deu um sorriso sem graça - Você vai provar por si mesmo que está muito errado.
Fred rosnou novamente - Tô nada. - ele disse. Mas se calou. Naquela altura do campeonato já sabia que discussões com o professor só sujariam sua barra.
O professor continuou. - Gostaria que esta gozação não continuasse; e que não ocorresse novamente no ano, ou melhor, na vida de cada um. Oito anos atrás uma menina da oitava série cometera suicídio por causa disso, infelizmente. - Gary levantou a mão e o professor fez um gesto de autorização.
- Tudo bem professor, eu não me senti ofendido. Acho que - o garoto começou a vislumbrar o nada, e seguiu-o por um instante no olhar, indo e indo até a janela e depois rapidamente para a porta - acho que eles não entenderiam se eu falasse. Se eu conseguisse falar, na verdade. Algumas coisas ultrapassam nossa capacidade de dissertar, e só conseguimos mostrar a nós mesmos.
Esse aí não bate bem da cabeça, a menina que antes se maquiava - e que agora já se mostrava a par da situação - sussurrou alto demais. Os sorrisos agora eram apenas estampados pelas bocas; alguns transformaram-se num olhar de repugnância, porém alguns estalaram pra fora os olhos da curiosidade. O professor cruzou as mãos em frente à barriga e andou vagarosamente em direção a Gary.
- Olha, Gary, eu conheço seu pai... - os olhos do professor ficaram vagos como se estivesse viajando pelas memórias do passado - ele é um homem responsável. Muito inteligente. Creio que você estará num bom caminho. - sorriu, depois ficou sério. Rapidamente voltou à mesa para apanhar o giz e continuar os tópicos sobre as características culturais de Roma.
- Adriano M. Souza -
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